Crónica 400
por Jorge C Ferreira
Quatrocentos passos, quatrocentos palmos. As mãos a passear com a caneta sobre o papel. Ou um teclado a queixar-se de tanto massacre.
Quem é este tipo que teima em escrever?
Por que o faz?
Nem eu, o autor destas quatrocentas crónicas, o sei!
Será já vício? Será algo compulsivo? Será doença? Será grave?
Por que teima em escrever? É o que muita gente deve perguntar.
Enquanto souber que me lêem vou teimando. Há alguém que “controla” os meus leitores. Uma coisa sei, quando aceitei este desafio não fazia ideia que iria chegar aqui, não sabia se seria capaz de dar conta do recado.
Das crónicas de 2014 a 2018, já saiu um livro. Quem diria? Chama-se: “O Mundo e Um Pássaro”. São crónicas seleccionadas e revistas. Coisas que o livro exigiu.
Um livro que tive a honra de ver apresentado por Alice Vieira, minha companheira do Jornal e pessoa que muito admiro.
Um Livro editado pela Poética e prefaciado pela minha querida editora Virgínia do Carmo.
Quatrocentos caminhos tentei trilhar crónica a crónica. Coisas inventadas, caminhos impossíveis, peregrinações improváveis, aventuras percorridas e outras sonhadas. A leitura e a interpretação cabem a cada leitor.
Depois de publicada a crónica passa a ser o que o leitor quiser. Cada um tem direito à sua interpretação, ao seu modo de a ler. Sei que há quem as guarde. Sei também de quem as leia e assim as envie a quem tem dificuldade em ler. Este acto. Este acto maior é uma generosidade tão afectiva que comove. Obrigado, Jorge Pequeno, (eu sou o Jorge Grande). Eu sei e tu também da alegria da nossa Lena ao ouvir a tua voz a ler as palavras que escrevi.
Para vos dizer a verdade não sei o que já escrevi. É possível que algumas vezes me tenha repetido, só me resta pedir desculpa.
Quatrocentas vezes pensei o que iria escrever naquela folha desafiante. Quantas vezes pensei, desta vez não vou ser capaz? Quatrocentas? Talvez.
Quatrocentas vezes escrevi entre quinhentas e seiscentas palavras. Tanta palavra com tão poucas letras disponíveis. A magia de um jogo que parece impossível de jogar. E, no entanto, a magia acontece.
Palavras tristes, palavras encantadas, palavras sonhadas, palavras desconhecidas. Algumas palavras que nunca pensei escrever e, no entanto, apareceram e ficaram em letra de forma assinaladas.
Os quatrocentos azulejos que um amigo vai juntando. Uma paciência infinita, uma arte que ficou dos Árabes. Quanto trabalho, para todos aqueles azulejos juntos fazerem sentido. Prometi escrever sobre o trabalho deste meu Amigo. Aqui fica. Promete só que me dás um azulejo em troca de uma palavra que seja única. Uma palavra que vou tentar inventar.
A música que outro Amigo compõe com apenas aquelas notas. A difícil arte de não repetir uma canção, de não ser acusado de plágio.
Os trilhos por onde passei, ao escrever estes quatrocentos textos, já foram calcorreados por outros que, com as mesmas letras, escreveram palavras diferentes.
O que eu amo ler cartas de amor. O que eu adoro ler livros de correspondência entre escritores, poetas e amantes de amores escondidos. O que eu amo saber dos segredos dos conventos e de todas as Soror Mariana deste mundo.
Devo ter, algures, no meu sótão, cartas muito antigas. Cartas do tempo em que os correios batiam à porta e davam a notícia. Cartas que traziam cheiro, suor, amor e saudades. Agora, quando acabar de escrever esta crónica, ou o que isto seja, sei que vou enviar por mail. Esses endereços esquisitos com arrobas.
Não é a mesma coisa. Acho que as palavras perdem sentimento. Mas terá de ser assim.
«Queres um bolo com quatrocentas velas? O que vale é que essa cabeça não pára! Muitas vezes para nosso mal.»
Fala de Isaurinda.
«Sabes que já não tenho fôlego para tanta vela. Espero que a cabeça se mantenha tão activa como a tua.»
Respondo.
«Tens resposta para tudo. Já a tua Mãe dizia que ninguém te calava.»
De novo Isaurinda e vai, a mão a dizer adeus.
Jorge C Ferreira Junho/2023(400)
Pode ler (aqui) todas as crónicas de Jorge C Ferreira
Quatrocentos abraços, de estima, admiração e excelente amizade.
Tão bom ler-te e sentir-te dentro desse criar apelativo.
Uma honra imensa!
Obrigado José Luis, Poeta. Honra 8mensa é a minha por ter aqui os teus comentários. A minha gratidão. Abraço grande
É um verdadeiro previlégio ser tua Amiga. O número quatrocentos, é belo, crónica de palavras de amor como as cartas que guardas no sótão e outras que adoras ler. És feito de brilho e emoção. Adoro ler-te. Abraço Jorge.
Obrigado Regina. Adoro que me leias. Cartas e outros recados. Um tesouro que espero não perder. O brilho é do teu comentário. Muito grato. Abraço grande.
Parabéns, meu Poeta Amigo.
Que venham mais crónicas, muitas e intensas histórias pela frente e mais livros publicados. Agradeço por cada momento que tr leio. Um grande abraço, Jorge.
Obrigado Manuela, minha Amiga. Que boa surpresa ter aqui um comentário teu. Eu é que te agradeço seres minha leitora. A minha gratidão. Abraço grande
Parabéns, meu Poeta e Amigo.
Que venham mais crónicas, muitas e intensas histórias pela frente e mais livros. Agradeço por cada momento que te leio.
Um grande abraço, Jorge.
Obrigado Manuela. Já respondido. Abraço grande
Parabéns, meu Poeta e Amigo.
Que venham mais crónicas, muitas e intensas histórias pela frente e mais livros. Agradeço por cada momento que leio. Um grande abraço, Jorge.
Já respondido. Abraço.
Já me habituei e sempre lembro, o dia de receber a sua Crónica. Esta é especial! Perfaz um belo número, para seu consolo e para todos os que adoram lê-lo. Meu querido escritor. Tenho comigo o seu último e encantador livro,” O Mundo e um Pássaro.” Que ainda não terminei, cada crónica merece a minha atenção, não a leio quatrocentas vezes, mas algumas.
Saliento a página, 89 “Choro por Aleppo.” E paro sempre mais um pouco, pela página do “Sr. Barata.” São textos muito tristes, sempre escritos com ternura e afecto. Não esquecendo, os que tanto precisam da sua voz. Eles já nem isso têm.
Que bela e doce ( mesmo sem bolo) a sugestão da atenta Isaurinda. Brindemos com um ternurento abraço. Obrigada por poder chamar-lhe Amigo.
Abraço meu.
Maravilhoso. Que bom teimar em escrever. Espero teimar ler .
É um privilégio poder acompanhar a sua escrita.
Grata pelo realismo, o pormenor, a sensibilidade, o humanismo, a sensibilidade, o brilhante sentido de humor, a liberdade.
Os valores que a nossa geração tão bem conhece e o poder tudo faz para derrubar.
Parabéns meu Amigo pelas 400 crónicas. Vou continuar a seguir esta viagem.
Grande abraço.
Obrigado Eulália. O privilégio é meu tê-la como leitora. Espero continuar a escrever mais algum tempo. Espero sempre os seus belos comentários. Abraço enorme
Obrigado Maria Luiza. A sua presença e os seus comentários são uma enorme alegria para mim, querida Amiga. Saber que me lê é uma dádiva. A minha imensa gratidão. Abraço enorme.
Maria Matos 20/06/2023.12.19
Acabei de ler a crónica 400, Jorge. Que Maravilha.
Que obra! Parabéns, pelo número e pela beleza que em todas elas nos transmite! Eu poesia em prosa.Tento não falhar nenhuma… e espero que muitas mais venham. E virão de certeza, porque a escrita é fundamental é imprescindível para si!
Não o vejo sem uma folha de papel e sem uma caneta, ou lápis redigindo tudo em que vai pensanfo e divagando.
Abraço de Parabéns.
Apague as 400 velas que a Isaurinda lhe propõe!
Obrigado Maria Matos. Que bom estar aqui a comentar esta crónica. Enquanto puder espero escrever. A minha imensa gratidão. Abraço grande.
Não há nada que te tolde o pensamento.
Ninguém que te impeça de escrever.
Palavras tantas. Estórias. Missivas. Cânticos e outros poemas da alma.
Assim chegaste aos quatrocentos.
Onde foste buscar os dias? Os rostos?
As noites acesas? Os devaneios?
Como trauteaste as cantigas de amigo?Como relataste os diários de bordo?
Onde pairavam as tuas memórias?
Imagens em movimento como bandos de aves ?
De que eram feitas as meninas dos teus olhos?
Quem são as tuas musas? Onde te
encontras com elas? Onde as escondes?
Como evocas o brilho dessa imensa chama? Foram pactos? Foram tréguas? Foram desejos? Ardentes tempos de escrever e desconhecer o cansaço?
De que és feito, afinal?
De esboços, rascunhos, páginas que não tardavam? Dos mais apelativos romances?
De cruzadas de palavras? De lendas? De poemas feitos de algas, ondas e avisos do vento?
Escuta. Essa é a tua paixão.
Não contam os anos. Os dias pequenos.
As longas e frias noites. As luas multiplicadas.
Os sonhos escritos nas linhas das mãos.
Não contam os perigos.
Os labirintos. As feridas escondidas. A respiração palpitante do corpo. O suor das mãos.
Às vezes um nevoeiro. Cerrado.
Não contam os passos.
Os céus de cambraia e linho rasgados.
Os nomes de guerra. A luta que fere e que se mantém.
Só conta. Só vale a pena. Essa paixão que cabe no corpo das palavras . Que te não sossega.
Que é como a urgência de um beijo. De um afago.
De um mar que fica para além do horizonte.
As quatrocentas formas de amar!
Obrigado Mena. Não sei que te dizer da maravilha que escreveste. És uma mulher generosa. Escreves lindamente e entegas as tuas palavras com carinho. A minha imensa gratidão por tudo. Abraços enorme.
Uma crónica a assinalar um marco: 400 crónicas. A partilha com os leitores. Sempre com a sinceridade na pele e a “ingenuidade ” de um menino.
Ao lê-las, durante largos meses, senti sempre o espanto e o sonho, às vezes traídos por alguma desesperança ( breve). A pungente sensibilidade e capacidade de olhar o outro pelo prisma da ” humanidade” e plasticidade.
Uma, também, crítica social apurada por um passado e cicatrizes que voltam a doer.
As palavras belas. E do belo não há definição universal. As palavras alimento e essência do próprio. As palavras carne a dizer o mundo e a dizer-se, neste entrelaçado muito identitário.
E haveria tanto… E as palavras poéticas. A poesia a trair a prosa, por vezes, ou como alibi para ela.
Aguardamos outras crónicas.
Obrigado Isabel. Que bom ler de novo aqui as suas belas e generosas palavras. Só com sinceridade vale a pena escrever. Escrever o que sentimos e nos faz viver. Muito grato. Abraço grande
Que espectáculo 400 crónicas! Parabéns querido Poeta Jorge C. Ferreira! Um abraço e que venham muitas mais.
Obrigado Claudina, minha amiga. A tua presença neste espaço é tão importante para mim. Leva-me a tempos tão distantes. Abraço grande
Jorge, 400 crónicas é coisa séria, é obra.
Tantas palavras, tanto sentimento.
Paixão. Tanta Paixão. Tanta entrega.
Parabéns.
Que essa paixão não esmoreça. Nunca!
Abraço
Obrigado Fernanda. Espero nunca a defraudar. Saber que há quem me leia é muito reconfortante. Que haja quem se dê ao trabalho de comentar o que escrevo é uma alegria imensa. A minha gratidão. Abraço grande
O que o fará escrever tanto, Jorge??
Parabéns…e só posso dizer, continue, acalmará um pouco essa Inquietação, mas sem ela não conseguirá viver…🥀🪻🥀
Obrigado Maria Clara. Que alegria ter aqui um comentário seu, minha Amiga Poetisa. Sabe tão bem! Vamos tentar ser sempre desassossegados e inquietos. A minha enorme gratidão. Abraço grande
Meu amigo Jorge, não te livras do sentimento saltitante de Poeta…Com ele, vêm as palavras que nos fazem voltar a vivências, ou a sonhos, quer sejam avenidas largas ou labirintos da Vida…Obrigada, amigo!
Obrigado Conceição. Voz dos poetas. Amante da escrita. É muito gratificante ter aqui este teu comentário, minha Amiga. A minha imensa gratidão. Abraço grande.
Crónica de Jorge Ferreira de 19 junho 2023 – Crónica 400
Escrever 400 crónicas é obra! Mas escrever 400 crónicas interessantes e de qualidade, é quase uma missão impossível! Parabéns ao Jorge Ferreira por nos presentear com os seus belos textos, iluminando e preenchendo assim a nossa vida. Bem haja! Um grande abraço 👏👏👏
Obrigado Margarida. Ter a sua voz neste nosso espaço é muito importante. Sabe tão bem saber que há quem nos leia. Disso nos alimentamos. A minha enorme gratidão. Abraço grande
Depois do Vol.I o que será mais duzentas e quarenta e três páginas? Nada, comparado ao privilégio de ler e voltar a ter o segundo Volume com todas as estorías de uma história de vida com muitas luas e muitos sóis que viravam estrelas ou até auroras por caminhadas feitas e inimagináveis antes de concretizares o sonho. Como o poeta escreveu, o mundo pula e avança, vale a pena continuar, pois de alma cheia de muitos olhares, as letras farão palavras e tudo mais acontece, quem sabe, o próximo será era uma vez… vai por aí meu querido amigo, segue o escrevinhar do teu coração timoneiro das tuas memórias. Abraço!
Obrigado Cecília, pela tua presença e pelo maravilhoso comentário. É sempre muito bom saber-te aqui. A minha imensa gratidão. Abraço grande